Detalhes do projeto
Identificação: CASA ER
Tipologia: Habitação Unifamiliar
Cliente: ER
Local: Vila Nova de Famalicão
Data: 2023 (prev)
Estado: Estudo Prévio

As casas são sempre mais que simples casas. São depósitos de histórias e lembranças, vivências e sentimentos. Esta é uma casa especial. É uma casa/herança de avós que já partiram. As histórias das casas misturam-se e entrelaçam-se nas histórias das gentes. Na hora de materializar o sonho de uma família, é dever do arquiteto não só aplicar todos os seus conhecimentos teóricos e técnicos, mas é imperativo conhecer os seus clientes, perceber as suas necessidades, intenções e vontades. A vontade de reabilitar, de preservar a memória e a identidade foram pilares decisivos neste projeto.

A Casa ER resulta de reabilitação de uma habitação existente, de um único piso, com uma área manifestamente reduzida face às atuais necessidades, composta por paredes exteriores em pedra de granito. A esta área foram-se somando outras anexas, tendo a casa crescido pela necessidade de ter mais área habitável, mas sem preocupação construtiva ou estética.

A Casa desenvolve-se a poente, junto ao arruamento, por onde se acede ao hall de entrada. Daqui, e face à existência de uma área reduzida para o encaixe de todo o programa pretendido, se entra para o espaço comum de refeições e estar, totalmente em open-space, com grandes vãos envidraçados para a paisagem e terreno, predominantemente ajardinado. Este é o espaço central da casa, que se quer de convívio de família, e que se estende para o exterior numa área de terraço coberto, que se assume como um prolongamento do espaço de lazer. A cozinha comunica diretamente com estes espaços e a sua localização, para além da estratégia de layout da habitação, tem um significado especial. Era aqui que a avó se sentava horas a fio. O lugar da avó, associado à ativação dos sentidos, de dois em particular: do olhar e lembrar que era ali que estava, e do cheiro, dos cozinhados, dos dias em família à volta da mesa.

O espaço comum permite a ligação a um pequeno hall que distribui para os dois quartos e para o wc. Espaços mais reservados, com vãos mais reduzidos para uma maior privacidade.

O desenho dos dois telhados justapostos mantém-se e faz sentir a sua configuração no interior, uma vez que o pé-direito se eleva até à sua altura total. A introdução de uma linguagem mais contemporânea e mais horizontal faz-se sentir no terraço exterior, pela franca necessidade de comunicação entre interior e exterior, e pela opção por vãos mais generosos e rasgados.

Ao nível da materialidade, o granito existente vai tendo protagonismo, pelo contraste com paredes mais lisas e de cor assumidamente branca, pela neutralidade e pela vontade de deixar sentir mais as texturas dos materiais mais antigos e nobres como a pedra e a madeira.

A reabilitação é uma paixão, muito diferente da construção de raíz. A reabilitação é um desafio diferente, que nos impõe condicionantes e surpresas que por vezes surgem em fase de demolição. O meu trabalho passa por compreender questões técnicas, sistemas construtivos e materiais do edifício e encontrar soluções, sem que nunca se perca a mais bonita relação entre criatividade e a técnica, nunca descurando a funcionalidade.